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quarta-feira, 28 de julho de 2010

A HISTÓRIA DE ELZA


Num dia ensolarado de maio nasceu Elza, criança afável, adolescente sem problemas e uma adulta solitária. Pensando bem a vida de Elza daria um romance. Uma história sem príncipes encantados, sem maridos e filhos. A mulher que hoje vive num Abrigo de Velhos, abandonada pela família um dia foi uma moça dedicada e trabalhadeira. Ela tinha amor próprio, mas sempre colocara as outras pessoas em primeiro plano, servir a todos para depois suprir suas próprias necessidades, seus anseios e sonhos. Estudara mas nunca tivera oportunidade de mostrar suas habilidades num trabalho que pudesse lhe render seu sustento, e por quê? Pura falta de tempo para si mesma. Quando terminou o ensino médio e o curso de Inglês a mãe estava muito doente, o dever de filha mais velha a obrigara a ficar em casa cuidando da mãe e dos irmãos. A enfermidade materna perdurou por vinte longos anos. Os irmãos mais novos estudaram, conseguiram bons empregos, se casaram e Elza teve um grande mérito nessas conquistas, abandonava tudo e corria acudir um e outro. O tempo passou, a mãezinha doente morreu e a vida de Elza também passava. Os anos se diluíam como fumaça e ela ficava de um lado para o outro socorrendo a família, primeiro os de sangue, depois os sobrinhos e atualmente assiste os filhos dos sobrinhos. Está com setenta anos de idade, mas em pleno vigor físico, a mente lúcida consegue processar tudo a sua volta. Tia Elza faz o que sabe fazer, é uma ótima babá, cozinheira e arrumadeira. Às vezes se aventura em tarefas arriscadas. Esse foi seu erro fatal. O menininho da sobrinha neta queria um biscoito, cuja lata estava no alto de um armário. Sem malicia a velha senhora pega uma cadeira  quebrada e despenca lá de cima. Gritos de dor seguidos de meses de internação e a confirmação do médico de que jamais voltaria a andar, a queda provocou a fratura do fêmur e devido à sua idade avançada não suportou os pinos. Embora se mostrasse conformada com desígnios de Deus, Elza estava muito abalada com o fato de ser obrigada a substituir suas pernas por uma cadeira de rodas. Chega o dia da alta hospitalar, aparece uma das sobrinhas visivelmente contrariada para busca- la. A tia convalescente a recebe com sorriso, pois sempre auxiliara a parente todas as vezes que foi requisitada e sem pedir nada em troca. Com tristeza ouve os resmungos da mulher: - Como pessoa idosa e imprestável dá trabalho.

Desde o acidente que a pobre Elza vivia numa verdadeira Via Crucis, ia de Herodes a Pilatos, mas não encontrava acolhida nos lares da família. Sem filhos, sem amor, hoje ela olha o mundo lá fora pela pequena janela do asilo. É dia de visitas, ela espera ganhar um sabonete de presente, quem sabe um creme hidrante, ou um corte de cabelos. Embora nunca tenha se preocupado com o amanhã de sua vida profissional, ela sempre fora uma mulher vaidosa, cuidava dos cabelos e gostava de usar um leve perfume  de flores. Nesse dia em especial, a solitária velhinha, talvez pela expectativa de receber visitas, sente sua alma melancólica, uma estranha paz inunda seu espírito. Olhando pela janelinha, ela vê o jardim e um beija flor pousando numa rosa vermelha, seus olhos ficam pesados e um cochilo agradável amortece seu corpo debilitado. Nessa hora ela ouve vozes que falam baixinho, talvez para não tira- la daquele leve torpor. Relutando contra o pesado sono, ela vislumbra à sua frente a sua mãezinha a quem ela dedicara boa parte de sua vida, feliz sorrindo para ela, fazendo gestos com a mão convidando a se levantar e ir até ela. A mãe não está sozinha ali. Elza vê os irmãos pequenos que criou como seus filhos, e os filhos dos irmãos e todos a quem ela sempre generosamente se doou. Nesse doce delírio ela pensa feliz que:

- A família lembrou- se dela...


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Nívea Sabino

domingo, 25 de julho de 2010

O ENGANADOR




A madrugada fresca e cheirando a terra molhada, marca o final do mês mais esperado do ano. Dali a alguns dias será natal. As famílias em geral aguardam ansiosas pelas festas de confraternização. A pequena cidade interiorana ainda é um bom lugar para morar. A moça de longos cabelos vermelhos dirige- se para a casa.  A contragosto faz o turno da noite, infelizmente não tem outra escolha, pois trabalha no restaurante de um posto de gasolina instalado na beira da estrada. A condução a deixa numa avenida a quatro quadras de sua residência. Um mal estar interior havia incomodado a jovem durante todo o dia. A sensação de que um leão faminto a rodeava dava- lhe calafrios. Ela confia em Deus e sempre reza ao seu anjo da guarda pedindo- lhe proteção, principalmente quando é obrigada a andar sozinha pelas ruas desertas do seu bairro que fica muito afastado dos demais. Faz o percurso em sobressalto principalmente porque há uma onda de crimes acontecendo na cidade, cujas vítimas sempre são mulheres sozinhas. Ela pensa no filhinho que ficou em casa aos cuidados da prima. O marido caminhoneiro passa muito tempo na estrada, ambos poupam dinheiro para pagar o terreno onde construirão a tão sonhada habitação da família.

Toda a população anda em polvorosa devido aos crimes hediondos que acontecem há alguns meses. O retrato falado do suposto assassino em série fora veiculado em toda a mídia, cópias foram entregues nos estabelecimentos comerciais da cidade, e a moça que caminha sozinha também tem seu pensamento voltado para a tal descrição. Avançando mais duas esquinas estará sã e salva no calor de seu lar.
O destino, porém não lhe deu seu beneplácito, a moça tem seus cabelos agarrados, a dor é imensa, ela sente as garras  rasgando a pele e arrancando pedaços de carne de seu pescoço, mas ela não consegue gritar sua boca está como que amordaçada, seus olhos não podem enxergar mais nada,  sem sentido mergulha nas trevas. Ela tem suas roupas arrancadas e um torpor  toma conta de sua mente, o odor de algo semelhante a enxofre inunda suas narinas. Os minutos que se seguem parecem durar uma eternidade, ela está entre o céu e a terra, dores atrozes a fazem desejar a morte, mas o pensamento no filho e no marido a obrigam a lutar pela vida. Ela ouve frases desconexas durante o trajeto que não sabe aonde a levará. Perdera a noção do tempo, mas tem certeza que o local que a estão levando é longe. Ela não distingue rostos, nem sexo, tem a impressão de estar entre feras ou bestas humanas, o mau cheiro é nauseabundo, o medo que a domina é descomunal. Num momento de lucidez ela distingue a porteira da entrada de uma fazenda. É arrastada pelo chão, todos os seus ossos doem. Ela consegue distinguir várias figuras vestidas de preto ao redor de uma mesa de pedra, como se fosse um altar de sacrifícios... 

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Nívea Sabino

sábado, 24 de julho de 2010

HERESIA




O escritório de Advocacia, não tem luxo, mas é um lugar muito aconchegante. A janela tem cortinas sóbrias, e os móveis não são convencionais. A advogada está sentada frente à tela do computador redigindo uma petição inicial, aguardando o próximo cliente, pensativa toma um cafezinho e reflete sobre sua carreira, afinal as criticas aos advogados costumam ser ferrenhas. As piadinhas então são um sucesso. Mas na prática é uma profissão árdua, talvez mais que muitas outras. O Fórum não funciona plenamente na parte da manhã, data vênia, livres de piadas e críticas os promotores e juízes têm um labor mais tranqüilo. Em contrapartida os Escritórios de Advocacia no horário matinal trabalham a todo vapor. E muitas vezes os profissionais liberais escolhem menos que são escolhidos, haja vista a enorme possibilidade de escolhas por parte dos clientes. Em certa cidade do interior, que possui uma praça central arborizada se comenta com certo ar de gozação que se atirar para cima caem dez pardais dos galhos da árvore e cem advogados juntos. A causídica chega cedo a seu local de trabalho, pois a manhã voa e muitas vezes o almoço é substituído por um lanche rápido porque partir do meio dia que são marcadas as audiências, algumas conciliatórias, outras “brigatórias” sem possibilidade de acordo. Ela arruma os documentos na pasta, passa a mão nas petições a ser protocoladas e lá vai a doutora para mais uma via crucis no Palácio da Justiça, deduzindo que o cumprimento da pauta seria rápido e quiçá eficaz, pois vale mais um bom acordo que uma boa demanda. Sempre andando rápido, formulando mentalmente as perguntas e imaginando argumentos, nem mesmo o sol escaldante, ou os outros transeuntes tinham o poder de lhe tirar a concentração. Ajeita os óculos, arruma os cabelos, veste a beca, cumprimenta os colegas no saguão, senta-se e aguarda a chamada pelo Oficial Porteiro. Analisa a cópia do processo. Remexe os arquivos mentais, não se recorda quem é o cliente. Lembra-se bem que não recebeu os honorários ainda, mas isso não vem ao caso, o importante agora é defendê- lo da melhor maneira. O burburinho de gente, em nada atrapalha, ela já está acostumada a pensar em meio ao barulho. Começa a convocação das partes, entram todos para a sala, onde está sentado em destaque o magistrado, ao seu lado o escrivão que digita a ata da audiência, do outro lado o promotor de justiça. Na mesa larga e comprida reservada para as partes, senta-se de um lado a parte contrária representada pela autora da ação e seu procurador. De outro a advogada e o seu deslembrado cliente. O juiz inicia a audiência perguntando se há acordo entre as partes. Ninguém se manifesta. A parte adversa retruca:

- seu juiz ele sumiu com a escritura da casa. Num muxoxo a mulher aguarda a palavra do meritíssimo, que se dirige à advogada:

- Dra. Pergunte ao seu cliente pelos documentos do imóvel. (Minutos antes, ela prevenida instruiu o seu cliente para responder apenas o que o juiz perguntasse sem rodeios e alertou o mesmo de que não poderia pedir o auxílio dela, advogada para responder as perguntas que lhe são dirigidas). Antes mesmo de qualquer manifestação por parte de sua procuradora, o homem diz em alto e bom som, com uma voz meio bêbeda:

- Doutô eu fumei os documento. O Juiz incrédulo pergunta:

- O senhor fumou a escritura?

- Fumei sim sinhô... E os caderno das criança tamém. (Abaixa a cabeça)

O juiz indaga:

- Como assim? O senhor diz que fumou a escritura da casa, e todos os cadernos de seus filhos?

- Ainda de cabeça baixa, o inquirido responde:

- Sim sinhô!

A ex mulher, do outro lado da mesa resmunga:

- E a minha bíblia também, Seu juiz!

O juiz já bastante espantado:

- A bíblia? Mas o senhor fumou a bíblia toda?

- A bíblia toda não doutô, que a capa era dura!

Depois dessa, melhor a ilustre advogada tirar o resto da tarde de folga.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

VINDICTA





A noite estava fria, e  a rodoviária totalmente exposta acentuava ainda mais o vento gélido que batia no rosto de Valéria, fazendo suas lágrimas descerem úmidas e geladas pela face abatida.
O filhinho dorme mansamente em seu regaço, alheio a toda tribulação que ocorre em suas vidas.
Valéria sempre fora uma mulher de fibra.  O casal que empregava seu pai, donos da fazenda que eles residiam levaram- na ainda criança para morar com eles, com o propósito de ajudar nos afazeres domésticos e em contrapartida estudar na cidade. Sentia desejo de visitar a família, mas o pai trabalhava como administrador rural e não tinha parada, até que perdeu totalmente o contato com a família. Os patrões sempre a trataram com respeito e dignidade, mas são muito idosos e quando fez 10 anos que residia com eles, a mulher ficou viúva, e a solidão foi a causa do seu definhamento. Os filhos vieram quando a patroa faleceu e depositaram na caderneta de poupança, uma espécie de indenização pelos anos de serviços prestados por Valéria aos seus pais, além do pequeno apartamento no antigo edificio da cidade. Não era muito, mas Valéria estava acostumada a economizar. Sempre estudara em escola pública e com esforço e dedicação conseguiu passar no vestibular para Direito quando estava com dezessete anos de idade.
Sobreviver apenas com os juros da poupança era quase impossível, mesmo não pagando aluguel, portanto resolvera entregar seu currículo em todas as firmas da cidade. Cidadezinha do interior, não tem muitas opções de emprego, mas espera que o curso de secretariado sirva para arranjar trabalho, pois faltam ainda dois anos para o bacharelado.
Finalmente chega uma proposta de emprego, de um grande frigorífico da cidade, cujos donos eram pessoas influentes na sociedade.  Já ouvira comentários de que a empresa fazia parte de um dos pólos importantes de processamento de carnes do país, e que esse era um setor muito poderoso, que apresentou nos últimos anos elevados lucros com as exportações de carne.
O ritmo de trabalho no frigorífico, diziam ser muito acelerado, e que os trabalhadores faziam jornadas muito intensas, não tinham  tempo de ir ao banheiro. Que  eram obrigados a produzir determinado número de cortes por minuto. E isso em ambientes muito frios com temperaturas de 10°C ou menos. Ela ouvira dizer ainda que o dono da Empresa falecera e que a viúva administrava tudo com mãos de ferro, que o único filho era a pupila dos olhos da mãe.
Mas isso não tem a menor importância para Valeria, pois acredita que será apenas mais uma funcionária, trabalhando  longe das câmaras frias,  cujos contatos se restringirão  apenas às chefias do baixo escalão.
Na segunda feira chegou antes do inicio do expediente.
Nervosa aguarda o chefe de sua seção chegar. Reza para não gaguejar e entrar no ritmo do novo emprego.
Exatamente há uma semana que ocupa o quadro de funcionários do Frigorífico, nada de espetacular ainda ocorreu, até que vê adentrar no saguão principal, e se dirigir para sua mesa, o homem mais lindo que já vira em toda sua vida. Sente seu coração pular no peito, suas pernas amolecerem, fica estática olhando para ele, e a atração foi recíproca, pois o rapaz moreno, não muito alto, de sobrancelhas negras, boca carnuda e um sorriso encantador, demora alguns segundos para perguntar a ela se o supervisor de manutenção se encontra.
Valeria recupera o bom senso e pergunta quem devia anunciar. Surpresa ve- se diante do dono, ou melhor do filho da dona do frigorífico.
Depois desse primeiro contato, vieram muitos outros, e vieram também as juras de amor eterno, as promessas de uma vida a dois, regada a felicidade como se a vida fosse um mar de rosas.
Valéria, estudava, trabalhava e namorava as escondidas porque a sogra não aceitava o relacionamento dos dois. Seis meses de namoro e Valeria  vê- se aflita diante de uma possível gravidez. O namorado fica feliz com a possibilidade de ser pai, ele herdara a boa índole do pai, não via nada de errado no relacionamento dos dois, pelo contrário tinha certeza que do lado de Valéria estava sua verdadeira felicidade. Com o resultado positivo passaram a ficar mais unidos ainda e também passaram a ser mais perseguidos pela mãe do rapaz. O tempo passa, o nascimento do filho de Valéria em nada abranda a fúria do coração da avó que não os aceita de maneira alguma.
Ela é obrigada a trancar a faculdade e para trabalhar deixa o menino na creche. O namorado de Valéria, sempre está presente, mas não ajuda muito financeiramente, pois a mãe lhe passa parcos recursos,  com promessas de aumentar a mesada se ele se afastar do filho e de Valéria. Senão bastasse, Valéria sente seu coração apertado, o filho com apenas um ano de idade e sua intuição diz que está novamente grávida. Dessa vez, não teve o esperado apoio do namorado, o que ela viu no rosto do amado foi uma expressão de medo e de desilusão. Ele ficou vários  dias sem aparecer, e  numa tarde fria de junho chegou com uma desculpa para se afastarem. A mãe havia lhe dado um ultimato: ou se afasta definitivamente da pobretona que arrumara, ou todas as suas mordomias serão cortadas, não terá mais dinheiro, nem carros, nem viagens,  queria vê- lo casado com alguém da mesma classe social, não com uma aproveitadora, procriadora de filhos. Ele explicou que continuará ajudando na medida do possível, que a ama e a seus filhos, mas que não pode assumi- la contra a vontade da mãe, pois depende totalmente dela. Valéria chorou a noite inteira, quando se levantou pela manhã, tomada de enjôos, a cabeça latejando, foi com muito custo que levou o filhinho para a creche, e se dirigiu para o trabalho, sendo surpreendida pela  carta de demissão que estava a sua espera. Passou pelo departamento pessoal, como se estivesse pisando em nuvens, as têmporas latejando, o enjôo acentuara. Pegou o pequeno na creche, e foi para a casa como se o mundo tivesse desabado sobre sua cabeça.
Sabia apenas chorar.
Não, não, estava fazendo tudo errado. Decidiu não mais chorar, era preciso pensar e tomar uma decisão em seu favor e de seus filhos. O ódio e o desprezo apagavam o enorme amor que sentia pelo namorado. Não, seus filhos não tinham pai, jamais saberiam quem era o covarde que os pusera no mundo. Pensou com calma, não derramou mais uma lágrima sequer. Ela provará para aquela família que não precisa deles, nem ela nem seus filhos. Lembrou- se da madrinha que mora em Goiânia, que lhe considera muito e com quem sempre mantem contato. Corajosamente ligou e contou o que estava acontecendo. A madrinha a acolhe, tem amor suficiente para ela e os filhos, diz que sua casa e o seu coração estão de portas abertas.
Passados mais de vinte anos, Valéria sente- se cansada, mas não abatida. Não é alegria o que sente nem é tristeza. Mas tem a certeza de que agiu corretamente e no tempo certo, contando aos filhos tudo que acontecera no seu passado. Descrevera a cidade provinciana que viveram por tão pouco tempo, não escondera nada pois eram rapazes inteligentes, ambos donos de suas próprias vidas, bem sucedidos na carreira que escolheram e independentes financeiramente. Chegara a hora de mostrar que vencera, cuidara dos filhos sem precisar do pai e da família dele.
Sempre ouvira dizer que a vingança é um prato que se come frio, mas ela não se vingará com sangue, será uma revanche sadia, que deixará envergonhados aqueles que desejaram que ela sucumbisse, depois de tantos anos motivada pelo desejo de vingar- se mostrando justamente o contrario, a deixa leve como uma pluma.
Escorraçaram- na da cidade, não no sentido lato da palavra, mas de maneira covarde e velada. Agora retornava, fortalecida,  não  naquele ônibus velho, caindo aos pedaços, que aliado ao seu mal estar gravídico, até hoje lhe provoca náuseas. Não, ela volta  no automóvel caro e veloz do filho mais velho, que por sinal é esculpido em Carrara ao pai. O Outro mais novo vai no banco da frente conversando sobre Leis e processos com o irmão, e as vezes ouve os comentários da mãe que sempre fora a mentora e a sócia mais laborosa do Escritorio de Advocacia mais movimentado de Goiânia.
Ao vislumbrar a placa de Boas Vindas, sentiu um frio na barriga, o coração acelerou, e sentiu uma imensa vontade de voltar atrás. Mas não havia mais como retroceder....



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Nívea Sabino


Nívea Sabino


segunda-feira, 12 de julho de 2010

DONA DE CASA RECICLADA




Ela acordara bem cedo, com os pássaros cantando em sua janela, e o sol escondido atrás da veneziana fechada. Que dia da semana é hoje? Bom, era melhor correr. A filha tinha que ir para a faculdade, a outra para o cursinho. Serviu o café da manhã e entre bocejos e sorrisos acompanha as filhas até o carro na garagem, abençoa as meninas e se despede com um beijo.

A mesma frase volta à sua mente: o tempo voa! Era melhor correr!

Advogada de profissão e dona de casa por mero acaso, ela se mudara para o bairro há alguns meses e ainda não se habituara ao ritmo da coleta de lixo, nem se acostumara a ser exclusivamente “do lar”.
Ela sentia- se meio perdida no tempo desde que resolvera se dedicar somente às tarefas da casa, se embananava com os dias da semana e se confundia com os dias do mês no calendário. Mas acreditava que faria progressos e o fato de estar junto das filhas valia qualquer sacrifício. Se bem que enfrentar a correria do fórum, as audiências com desfechos inesperados era bem mais interessante, ainda mais que seu lema sempre fora, MELHOR UM BOM ACORDO QUE UMA BOA DEMANDA.

Ela sai do devaneio e volta para a realidade: O LIXO.

- Meu Deus será que hoje passa lixeiro? Ela acha que não, ou melhor, sabe que o caminhão passa três vezes na semana, só não consegue memorizar os dias. Mais fácil memorizar os prazos processuais.

Corre limpar a casa, organizar a cozinha para o almoço.

-Ai, que barulho é esse? O caminhão coletor de lixo... Corre na rua, grita para o caminhão:
- espere um pouco, por favor!
Volta correndo trazendo os sacos amarrados.
Ela pergunta: - Que dia mesmo vocês passam? O Motorista educadamente pela milésima vez repete os dias que o lixo é recolhido.
Ela agradece e corre de volta para as tarefas.

A semana voa, ela correndo com o serviço. Pela manhã os passarinhos a acordam, ela serve o café, abençoa as filhas, e volta a dúvida cruel, será que o lixeiro passa hoje?

Ela prepara o almoço, quando um barulho ensurdecedor a tira da melancolia da empreitada. Simultaneamente ela ouve o interfone tocando sem cessar e uma buzina de caminhão e gritos de homens na porta da casa. Ela sai em disparada e se depara com o motorista do caminhão do lixo buzinando enquanto os coletores tocavam o interfone e gritavam a plenos pulmões: LIXEIRO, LIXEIRO, LIXEIRO!

Hoje ela acorda com os passarinhos e continua correndo com as tarefas domésticas, mas nunca mais esqueceu o dia que o lixeiro passa.



Nívea Sabino

sábado, 10 de julho de 2010

MISTÉRIOS DA VIDA E DA MORTE



O homem de barba grossa e grisalha passa uma boa parte do tempo sentado no banco de madeira, sob uma frondosa árvore, em frente de casa.
A aposentadoria lhe fez bem, aliás, muito merecida, pois trabalhava desde os doze anos de idade. Sobra-lhe tempo para viver de lembranças, algumas boas e próximas, outras nem tanto.
Ali, sentado sozinho, sentindo o vento com cheiro de flor tocar sua pele, sua memória o leva para o passado, relembra fatos de sua adolescência, perdera a mãe ainda criança, o pai buscara outros caminhos e ele ficara à mercê do destino mas tinha têmpera, possui boa índole, e hoje ainda crê que a mãe cuida dele lá da Eternidade. Nesse instante desliga- se do presente e vive das recordações pretéritas de seu avô paterno. Um senhor muito distinto que usava chapéu Panamá. Tornara- se um hábito desde que aprendera se virar sozinho passar as férias na companhia do amado avô que o chama somente de Menino.
Quando estava com quinze anos, aproveitando os dias de folga foi visita- lo como de costume, e quis surpreende- lo, nunca usara chapéu, mas no percurso da viagem entrou numa loja e escolheu um bem interessante e comprou.
Riu sozinho de seu intento, sabia o que estava fazendo. Estava sendo esperado, não pegaria ninguém de surpresa, mas quando chegou notou que o bom velho ficou muito impressionado e exclamou comovido:
- Menino, ‘és’ um homem agora, ‘estás’ usando chapéu! Sorriu e abraçou efusivamente o jovem.
Aqueles foram dias de alegria, se fartando com as comidas preferidas, ouvindo histórias e curtindo um lar de verdade, ali sentia- se sempre criança, não se imaginava sem aquele aconchego. Na despedida recebeu um abraço apertado e uma bênção:
 -Deus te abençoe Menino, que venham logo as próximas férias. E ‘tens’ muito bom gosto para chapéu. 
Porém, o que ocorreu alguns meses depois daquela estadia ainda hoje o incomoda e impressiona. Moravam distantes e as visitas não eram recíprocas, os avós não faziam longas viagens, e ele gozaria do merecido descanso anual somente dali a alguns meses. Uma noite o rapaz acordou assustado de madrugada, ouvindo a voz inconfundível daquele ancião que ele tanto amava:
- Menino, Menino, me ajude!  Ele pula da cama e chama pelo pai: 
– Pai o vovô está aqui, eu o ouvi me chamar.
O pai meio sonolento, diz que foi um sonho, pois não ouvira nada. Uma chuva fria caia lá fora. Com muito custo o jovem volta a dormir quando ouve a mesma voz sonora e aflita chamando por ele e com certeza precisando da sua ajuda.
- Socorro, Menino, me ajude,menino!
.... 

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Nívea Sabino- 10/07/2010

domingo, 4 de julho de 2010

UM CASO INTRIGANTE


O dia amanheceu com o sol de sorriso aberto.
Os pássaros com seus cantos sonoros anunciam um dia sem chuva. Fim de semana que chega com prenúncios de bons passeios.
Para a molecada que esperava apenas o aval dos pais para saírem para pescar no Rio das Velhas, os ponteiros do relógio não andavam, corriam.Não era casualmente que podiam sair para um lugar mais distante de casa, mas as mães não se oporiam porque os pais de alguns estariam juntos na aventura daquele sábado ensolarado.

 
Cinco jovens e dois senhores, muita tralha de pesca, barracas para dormir, o brasileirinho arroz com feijão, carne de sol, e guloseimas que a rapaziada aprecia. Tudo conferido, não faltava nada, o refrigerante afundado no gelo e nada de bebidas alcoólicas. Naquela época a juventude não precisava de subterfúgios para se divertir, nem mesmo o cigarro comum era lembrado para ser levado para a beira dos rios.

Todo mundo apertado na camionete antiga, mas o desconforto do passeio, que uns podem chamar de Programa de Índio, não desbotava a alegria e não incomodava a nenhum dos pretensiosos pescadores.

A conversa amena entre eles esquentava às vezes com uns e outros contando historias de pescador, e insinuando ser o melhor do grupo, prometendo pescar os maiores espécimes, o que era caso de muita gargalhada no interior do veículo.

Nessas empreitadas juvenis, sempre há aquele que se destaca como o mais afoito, indo mais a frente, sem preocupar em desviar dos outros, acreditando que não existe perigo, ou mistérios nos lugares desconhecidos.

Foi exatamente por ser assim, que um dos adolescentes viveu os momentos mais estranhos e cabulosos de sua vida. O jovem se afastou do restante do grupo, com o intuito de encontrar um bom lugar para armar o acampamento, sendo mais ágil que os demais não percebeu que pegou um atalho que o separou totalmente dos amigos e do pai.

Foi exatamente no momento que notou que se encontrava só, que vislumbrou a poucos metros à sua frente uma barraca montada, era do tipo que ele não conhecia, parecia ser um modelo bem antigo, totalmente diferente da que ele possuía. Pensou em avançar, mas algo o deteve. Uma mata divisora, o separava da estranha cena que ele veria a seguir.

De dentro da barraca ele vê sair um negro, alto, forte, vestindo uma calça de algodão cru no modelo das usadas pelos escravos em novelas de época, seu dorso estava nu, e pelas feições do homem ele percebe que está nervoso e com muita raiva, pois gesticula e fala, mas o garoto não consegue ouvir nada do que ele diz, apesar da proximidade entre eles.

O moleque sente seu sangue gelar nas veias, pois o homem adentra na barraca e volta imediatamente, trazendo arrastada pelos cabelos uma mulher nua. Não tão negra quanto ele, mas a pele é bem escura.
A mulher se debate e grita, mas o jovem não ouve a sua voz.

O homem tem um facão na mão e sem dó ou piedade golpeia a mulher no pescoço, separando a cabeça do corpo. Imediatamente, esconde o corpo mutilado dentro de um saco, arrasta de volta para dentro da barraca, deixando um rastro de sangue e sinais na terra seca, coberta de poeira. O silencio impera no local. De pernas bambas, o rapaz assiste a cena...




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Nívea Sabino 04/07/2010

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