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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O CONTO ( Sob o ponto de vista desta autora)

O CONTO caracteriza-se, geralmente por apresentar um enredo cuja estrutura contém as seguintes partes:

  • Apresentação
  • Complicação
  • Clímax 
  • Desfecho
Porém não raramente construo CONTOS  que desmontam esse esquema de enredo.

Quando escrevo um CONTO muitas vezes escolho um tipo de narrativa concentrada, eliminando análises minuciosas de personagens ou ambiente. Deixo de lado as complicações de enredo e prefiro delimitar espaço e o tempo. 
Outra ocasião gosto de apresentar um foco narrativo diferente, limitando a visão do narrador e expandindo a visão do leitor, que se torna o próprio narrador dando voz à (s) personagem(ns) sob sua ótica os fatos vividos por ela (s).
Quando escrevo o meu foco principal é contar a história, portanto não causa estranheza a ausência da estrutura tradicional desse gênero, pois embora presente um conflito, o desfecho fica em aberto: cabe ao Leitor concluir.
Eu narradora muitas vezes me coloco no lugar da personagem e a linguagem do narrador antes de uma maneira cede lugar a linguagem própria da personagem.

O conto pode ter muitos pontos de vista, mas uma coisa é certa, nasci CONTISTA pois me faço feliz CONTANDO HISTÓRIAS.

Os CONTOS publicados  me realizam, me divertem e me completam quando o LEITOR se prende dentro dos textos, sente falta da leitura e faz do meu CONTO um RECONTO reproduzindo as histórias à sua maneira. 

Nívea Sabino









CONTO: AS TRÊS ANA



Nasceram ANA, as três. Ana Clara, Ana Bela e Ana Flor. Foram chegando mansamente e fazendo a alegria do lar daquele casal que quase nada conhecia das agruras da vida. Viviam lá distante da civilização e viam as pessoas que eram necessárias, ou melhor, se comunicavam com as gentes que precisavam. Sobreviviam da pesca na Ilha, do que plantavam e do que colhiam. O mar revolto não os assustava. Gostavam de levar as três Anas para brincarem no Forte que enfeitava a praia e mexia com a imaginação da mãe Maria que escrevia poesia e se alimentava de sonhos. Maria nasceu em berço de ouro, recebeu uma esmerada educação na infância. Sendo a única filha de um abastado comerciante teve sempre tudo o que quis menos o direito de escolher o homem a quem dedicaria todo o seu amor. E justamente por que seus pais não concordaram com sua escolha que hoje vive assim tão isolada. Era uma tarde cinzenta do mês de julho, inverno de um tempo muito distante, naquela época aos dezesseis anos de idade Maria decidida como nunca, fugiu de casa para viver com João, um pescador rude de voz mansa e mãos calejadas, porém macias de afeto e de promessas.
E eram felizes ali onde escolheram viver e criar suas crias. Nasceram e cresceram as Anas e elas reinavam soberanas naquele lugar com cheiro de relva molhada, gosto de água salgada que o mar levava para longe juntamente com os olhares cobiçosos das três jovens. 
Aquele céu azul, as palmeiras a se perderem de vista, o som do mar batendo nas pedras lisas e frias, tudo isso um dia perdeu a cor. 
Ana Bela ficou doente. O pai foi até a cidade trouxe remédio, trouxe fé, mas a jovenzinha foi piorando a olhos vistos até que a coruja piou triste na gameleira e o coração amargurado da mãe pressentiu que a Bela Ana estaria para sempre amalgamada em seu coração, acorrentada á sua frágil alma materna, que tudo suporta, mas só Deus sabe a que custo.
O tempo passou e o sol brilhava com força através da vidraça. A mesa posta ostentando guardanapos personalizados cor de rosa, sob a louça branca. Os nomes das filhas cada qual em seu lugar, Ana Clara, Ana Bela, Ana Flor. O lugar do pai há muito ficava solitário. O seu débil coração parou quando a família antes tão perfeita se quebrou na fria noite de inverno. Outro mês de julho que protagonizou outra fuga, mas desta vez para o além. 
Ana Clara e Ana Flor sentiam o coração apertado diante do lugar da irmã. A mãe fazia um esforço sobrenatural para encarar a saudade da filha. O marido ela não perdoara ainda ter- lhe virado as costas no momento que mais precisou. Oito longos anos de mesa posta e de cama arrumada, sentindo o doce aroma da filha morta prestes a retornar a qualquer momento ao convívio familiar. Como se isso fosse possível...
Mas uma noite antes do jantar, a mesa delicadamente arrumada estava diferente. Faltava um lugar sempre em destaque. O prato e o guardanapo bordado com o nome de Ana Bela. Que alivio sentiram as irmãs Ana Clara e Ana Flor. Finalmente Maria voltaria a ser mãe delas. Aceitara a partida da outra filha e isso significava um novo recomeço. Mas onde estava Maria?
- Mãe! Mãezinha! Gritaram as duas Anas, subindo correndo os degraus que levavam até o quarto amplo e arejado da mãe.
Quão sublime é o amor e quão frágil é a existência. Maria não aceitara a morte simplesmente, mas se jogara em seus braços para tristeza das filhas que assim a julgaram ao se depararem com o corpo inerte da mãe sobre a cama. As mãos postas em cruz sobre o peito farto de amor e ternura. Mas qual o susto ambas levaram ao sentirem o mesmo odor da morte de Ana Bela. O mesmo odor da morte de João. Ali bem visível no pescoço da pobre mulher, no lado esquerdo sobressaiam salientes as malditas marcas. O sinal de dois caninos que laceraram a pele rompendo a carne, e deixaram a marca azulada de uma boca que sugou avidamente o precioso sangue e a vida que havia no corpo de Maria. 
A noite escura se abatia sobre a ilha e a névoa ocultava a casa à beira mar. Lá fora o mar revolto se jogava de encontro ao muro de pedras e o vento assoviava alto encobrindo o piado triste da coruja que buscava abrigo tentando fugir da tempestade. A lua aos poucos se sobressaia iluminando a varanda aonde as três Anas bailavam. Ana Clara, Ana Bela, Ana Flor. 


Nívea Sabino.

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Eu sou Jornalista

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