O
sentimento de medo e de apreensão corrói a alma de Vitória. Alguma coisa grita
em seu interior, como se algo anormal estivesse prestes a acontecer. As suas
pernas estão gélidas debaixo do cobertor. O marido precisou fazer a viagem de
última hora, e ela não conseguira sair mais cedo de seu trabalho e acompanhar
Risoberto nessa empreitada. O casamento de pouco mais de dois anos está cada
dia mais consolidado. Ambos se entendem perfeitamente bem, e sempre dividem
todos os momentos da vida. A casa onde moram é bem segura, tem grades nas
janelas, e a cerca elétrica protege contra a entrada de estranhos no local.
O
jardim de muitas flores exala o perfume marcante da Dama da Noite que invade
sorrateiramente o quarto semi-iluminado do casal. O doce perfume da flor faz
Vitória pensar em como o Criador é gentil para a humanidade, e numa prece
agradecida pede proteção para o marido que viajou, e suplica aos anjos que
guardem sua casa e protejam sua família.
Vitória
não consegue dormir no escuro, e quando ocorre imprevistos como esse de ficar
só, deixa a lâmpada do banheiro acesa para iluminar parte do corredor e o seu
quarto. A televisão fica ligada em som bem baixo para que nenhum barulho
externo passe despercebido. Billy o cãozinho poodle faz- lhe companhia. Atento
a tudo, permanece em posição de guarda.
Vitória
demorou dormir, e por volta das quatro horas acorda com um barulho estranho,
como se algum objeto pesado tivesse caído no corredor do lado de sua janela. As
pernas ficam geladas, o coração dispara e ato contínuo Billy começa a rosnar. A
jovem sente o estômago revirar em suas entranhas e um odor fétido inunda suas
narinas. O homem magérrimo, sem camisa, olha para ela com um olhar faminto e
enlouquecido. O grito sai de seus pulmões com uma força que nem ela mesma
imaginava ter, enquanto o cachorrinho late e avança para o estranho. Ele ri. O
riso dos loucos e desatinados e avança para Vitória, que sabe apenas gritar,
gritar, gritar. Os vizinhos ouvem os gritos de pavor e correm para ver o que
está acontecendo. Alguns tentam entrar, porém a cerca elétrica e o alarme estão ligados. O portão está
travado pelo cadeado. A polícia chega com o encarregado do alarme da residência
que disparou acordando todo o quarteirão. Não se ouve mais o latido de Billy,
nem os gritos de Vitória. A polícia invade a residência. O odor nauseabundo
toma conta do ambiente e não há sinal algum do invasor.
Os únicos vestígios de que o mau feitor esteve dentro da casa é o cãozinho morto
com as tripas para fora e a pobre mulher estrangulada, jogada sobre a cama com os olhos
arregalados.
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